21 de junho de 2005

Requintes de Malvadez

Tentei escrever este texto um milhão de vezes.
Apaguei, risquei, mudei frases, palavras, substantivos e verbos.
Auto-censurei palavrões, indiscrições e insinuações de mau-gosto.

Mas continua a encher-me de nojo pensar nele noutro abraço, perdido noutra boca, feliz noutro corpo, molhado noutro suor, conspurcado noutro sexo.
Pergunto-me "Como foi capaz?".
Acredito que foi a sua forma de matar bem morto qualquer sentimento que ainda se atrevesse a sobreviver.

E quando eu já não olhava para o telemóvel mil vezes por dia, quando já havia deixado de espreitar obcecadamente pela janela, esperando vê-lo chegar, eis que surge, do nada, um sinal.
Um sinal provocado exclusivamente pela vaidade e pelo ego, mais uma vez tão egoisticamente.
Uma indicação tão clara de que nada sente (nem sentiu) por mim.
Um intuito único de escarafunchar uma ferida tão aberta, tão recente... e de a impedir de fechar e cicatrizar.

Como pude enganar-me tanto? Como pude ser tão estúpida?
Como pude chegar até a sonhar em ser a mãe dos seus filhos?!
E como me conhece tão pouco, afinal?

Ao contrário do que eu supunha é tão pequeno como os demais, tão cruel como todos os outros, tão fraco e cobarde como outro qualquer.
Para onde fugiu a pessoa meiga, honesta e companheira que conheci?
Onde se escondeu a sua força e equilíbrio, a sua integridade e decência?
De onde surgiu este monstro frio e sem sentimentos, sem coração, nem compaixão?
De que inferno veio este demónio egocêntrico sem respeito, nem piedade pelo sofrimento alheio?

E porquê?!?!
Alguém me explique...