30 de junho de 2008

Weekend leftovers

Estive com eles este fim de semana.
Os amigos bem sucedidos e socialmente bem integrados.
Os amigos bem casados e com filhos bem criados.
Os amigos economicamente desafogados e planos de vida cumpridos.

Estive com eles este fim de semana.
A amiga que não encaixa porque desordena o número par.
A amiga que não combina porque é diferente e se isolou.
A amiga que destoa porque se furou e tatuou.

Estivemos juntos este fim de semana.
Os amigos que, em comum, têm unicamente a sua história.
Os amigos que, de tão díspares, mutuamente se perturbam.
Os amigos que, de tão opostos, mutuamente se fascinam.

Estivemos juntos este fim de semana.
Os amigos que, against all odds, conseguem manter-se próximos.
Os amigos que, apesar dos pesares, conseguem continuar amigos.

27 de junho de 2008

Gosto de escrever...

... para pessoas inteligentes.

Gosto de misturar português e inglês e saber que me vão compreender.
Gosto de fazer trocadilhos e ter a certeza de que me vão saber ler.

Gosto de deixar frases a meio e crer que as vão conseguir completar.
Gosto de usar meias palavras e ser lida nas entrelinhas.

Gosto de não ter de explicar o que escrevi.
Gosto de não ter de me esforçar para que percebam que brinco.

Gosto de escrever.
Gosto que me saibam ler.

Gosto que me leiam.

26 de junho de 2008

Os espartilhos...

... em que me apertei constrangem-me.
Impedem-me de respirar.

O colete de força que vesti oprime-me.
Rouba-me vida e liberdade.

Quero correr e detenho-me.
As grilhetas magoam-me.
A coleira estrangula-me.

Vou ficando.
Tenho de ficar.

Não posso ir.
Impedi-me de partir.

24 de junho de 2008

Ela está...

... em depressão profunda.
E todos estamos extremamente preocupados.
Vemo-la no elevador, cruzamo-nos com ela nos corredores.
Apática, sorumbática... desleixada.
E todos tememos o pior.

Acredita firmemente que um homem a salvaria.
"Um namorado", nas suas palavras.
Uma Paixão que a ensinasse a viver.
Um Amor que a tornasse igual.

Lembrei-me dela quando me perguntaste:
"Então não te sentes bela? Terás de esperar pelo dia da metamorfose… será uma palavra? Uma imagem? Um homem? Uma mulher? Um povo? Um país? Será a morte? Ou serás tu???"
e te respondi sem hesitar:
"Serei eu, sem dúvida!"

Não há homem que a salve.
Nem homem que me transforme.

Não há homem que a molde.
Nem homem que me recrie.

Somos lagartas inertes.
Incapazes de nos arrogarmos borboletas.

E enquanto assim for...
... não há milagre para ela...
... nem saída para mim.

23 de junho de 2008

"Acaba...

... com o teu blog!" disse-me ele, com decisão.
"Apaga-o... não guardes nenhuma lembrança!"
"Não te prendas, não te agarres ao que passou."
"Não relembres, não remoas, não relates."

Pensei que seria incapaz de o fazer.
Terminá-lo, sim... já o pensei várias vezes.
Mas apagá-lo?!
Fingir que nunca tinha existido?!

São as tais prisões que me detêm.
Das quais até posso fugir...
... mas que sou incapaz de esquecer.

20 de junho de 2008

Triste dia...

... para fazer esta festa.
Mas, para o bem ou para o mal, foi assim que aconteceu.


Mesmo tendo descoberto que o Diário tinha sido incluído no Bloganiversario (não sei bem como nem porquê) e mesmo tendo as festas do vizinho e da vizinha para me alertar para o facto, o que é certo é que, assim mesmo, me esqueci de soprar as velinhas aqui do burgo.


E já são 4!
'Tá um crescido este meu blog...

Parabéns atrasados, Diário! :)

19 de junho de 2008

Elas...

... são vistosas e alegres.
Seguras e atraentes.

Na ponta da língua, têm sempre boa resposta.
Com malícia saudável, divertem e dispõem bem.

Eu apago-me e observo.
Na sua sombra, desvaneço.

Insistem que sou eu que não quero brilhar.
Que a substância existe mas que não lhe sei dar forma.

Não vêem que somos diferentes.

Que nem todos podemos ser dia.
Que todo o dia tem uma noite.
Que toda a noite tem um luar.

Não vêem que precisam de mim.

Que toda a estrela precisa de um palco.
Que todo o palco exige um público.

Não percebem que preciso delas.

Que toda a penumbra precisa de um Sol.
E que todo o silêncio exige um grito.

18 de junho de 2008

O dia...


... lindo gritava-me: "Vem!"
Quis sair e dizer-te: "Vem comigo..."

Porquê esperarmos pela noite que nos ocultará os rostos?
Porquê escondermo-nos em sombras que nos cobrirão os olhos?

Vamos... agora.
Deixa-me ver-te.

O dia lindo gritava-me: "Toca-me!"
Quis falar-te e pedir-te: "Toca-me também..."

Porquê deixarmos definhar corpos e vontade?
Porque nos prendemos em teias e apatia?

Sente-me... agora.
Faz-me voar.

O dia lindo gritava-me: "Vem, toca-me... vive-me!"

E eu não fui capaz de te dizer:
"Vem comigo, toca-me também...
... quero viver contigo este dia lindo"

Presa em apatia, vontade enleada.
Corpo extenuado, sempre o mesmo fado.

17 de junho de 2008

A tua falta

Não gosto de sentir a tua falta.
Nem lembrar como sabes fazer-me rir.

Não gosto de perceber que te desejo mais perto.
Nem de pôr a hipótese de te chamar a mim.

Expulso do peito o aperto sempre que penso em ti.
E repito que só o sinto porque estou só.

Mas lembro-me de ti e sinto a tua falta.
Penso em ti e lamento não saber querer-te.

E o meu semblante nubla-se porque sei que gosto de ti.

16 de junho de 2008

Falta-me...

... paciência para a lamúria alheia.
Acho-a indigente e lamechas, inapropriada e escusada.

Dou força e tento mostrar que é inútil.
Digo que é só uma fase.
Acredito que tudo vai melhorar.

Vejo que é tolo não agradecer o sol.
Que é cego não querer sorrir.
Que é cansativo não tentar viver.

Se o vejo nos outros,
Porque a tolero em mim??

6 de junho de 2008

Acho graça...

... ao jeito como me elegeu para sua confidente.
Sorrio com a forma descomplexada como se abre comigo.

Conta-me coisas que, provavelmente, não diz a mais ninguém.
Revela-me segredos que talvez devesse guardar só consigo.

Respondo-lhe, deixando-o maioritariamente desabafar.
Aconselho-o como se de um filho se tratasse.

Quer que eu lhe diga o que deve fazer para deixar de sofrer.
Tal como alguns que aqui vêm ao engano, pergunta-me quanto tempo dura o Amor.

E eu sorrio, uma vez mais.

Porque pensará ele que eu sei?
E porque receio dizer-lhe "Para sempre..."?

3 de junho de 2008

"E tu? Para onde vais?"


Não sei para onde vou.
Não reconheço o sítio onde estou.

Invejo os que por mim passam, com decisão.
Observo os que avançam sempre, com precisão.

Maldigo os que me (ultra)passam, sem cerimónia.
Lastimo a minha inaptidão e parcimónia.

Não sei para onde vou.
Mas sei que não quero continuar onde estou.

2 de junho de 2008

Sempre achei...

... que, se partisse, ninguém sentiria a minha falta.
Facilmente seria substituída.
Rapidamente seria esquecida.

Sempre confirmei que, quando parto, ninguém me chora.
Facilmente se reformam.
Rapidamente se conformam.

Essa certeza rouba-me sensibilidade.
Esse saber dá-me inflexibilidade.

Assim nunca me custa(rá) avançar.
Assim parto (sempre) sem me preocupar.