30 de abril de 2008

Passa por mim...

... carrancuda.
Abro o sorriso habitual, cumprimento-a com o costumeiro "Bom dia!".
Responde-me a custo, o esgar forçado tentando suavizar-lhe a expressão.

Penso porque haverá pessoas assim... a quem um sorriso parece provocar dor.

Ela é feia, nada deve à natureza.
Talvez nada deva também ao Mundo que a menoriza por isso.

Se fosse bela, talvez caminhasse direita, cabeça e ombros erguidos, segura do que confirmaria, a cada passo, nos olhos de quem com ela se cruza.
Se fosse bela, talvez a luta fosse mais branda, as graças mais abundantes.
Se fosse bela, talvez tudo fosse mais fácil e ela seria mais feliz.
Se fosse bela, talvez a Vida lhe sorrisse mais vezes.

Mas talvez tudo pudesse ser diferente se, pelo menos, ela sorrisse ao Mundo.
Porque se, pelo menos, ela sorrisse, talvez se tornasse bela.

28 de abril de 2008

Ele...

... não gosta de mim.
(e ainda bem que assim é)

Faz a sua vida, perde-se em outros caminhos.
Persegue outros proveitos, olvida-me completamente.

Mas quando, por acaso, me encontra, redescobre-me.

E volta a pensar que o posso salvar.
E sente que sou aquela que o vai reabilitar.

Porque sou sensata e vê-me estável.
Porque estou só e crê-me disponível.
Porque me sente força e quer deixar de ser débil.

Ele não gosta de mim, ambos sabemos
(e ainda bem que assim é!)
mas acredita que é meu refém.

Porque nunca está só mas vê-se sem mais ninguém.

23 de abril de 2008

Engraçado...

... como ainda não me esqueceste.
Mais curioso ainda que continues a procurar-me.

Em recados velados.
Em perguntas directas.

Em tentativas (pouco) disfarçadas.
Em convites 'segundo intencionados'.

Engraçado que eu tenha ficado em ti.
Mais curioso ainda porque faço de tudo para que não permaneças em mim...

22 de abril de 2008

"Não és homem para mim!"

"Ele não servia mesmo para ti", disse-me ela, com convicção.
E eu, com a mesma certeza, concordei.

Reconforta-me saber que (ainda) não errei.
Que, mesmo algo enlevada por atenções e descoberta, nunca ceguei o meu sonho.

Agrada-me saber que não me perdi em promessas, nem me ofereci por lisonjas.
E que, mesmo me esgotando em solidão, nunca calei o meu âmago.

É bom olhar para trás e poder confirmar a nossa opção.
Dá-me confiança no (meu) futuro poder acreditar (sempre) no meu coração.

18 de abril de 2008

De feição

Há um certo tipo de cara que me repele à partida.

Com bocas muito pequeninas, testas minúsculas e narizes arrebitados que puxam o lábio superior, os olhinhos muito juntinhos...
Fazem-me (quase) sempre lembrar animais pequeninos e matreiros, dissimulados e fugidios... mas estúpidos!
Ou melhor, muito espertos mas naquela maneira reprovável de aproveitamento da boa vontade ou da ingenuidade de outros.
Furões!!

Seja como for, ciente (como sou) da importância da empatia imediata com base em sensações e primeiras impressões, este tipo de feição surge condenada inevitavelmente ao fracasso, no que à minha disponibilidade diz respeito.

E o mesmo aplico ao tipo de pessoa que critica sem saber e fala sem conhecer.
Ignorantes que vendem o que nunca compraram!

Ou aos que debitam opiniões exclusivamente baseadas no que pensam ou fazem, plenamente convencidos que tal deverá ser regra válida para todos, sem ter em conta que não há segredo único para a Felicidade... a não ser a constante busca e expectativa das diferentes formas da mesma.
Arrogantes que, do alto, derramam a sua sabedoria!

Ou então, simplesmente, sou eu que, hoje (ou sempre?) não estou de feição...

17 de abril de 2008

Esta minha...

... falta de entusiasmo, deprime-me...

... ou então é esta depressão que me rouba o entusiasmo.

10 de abril de 2008

Nunca quis...

... que chegasse a este ponto.
Lutei tanto para que isto nunca acontecesse.

Mas sinto-me a perder terreno.
A perder esta guerra que a mim declarei.

Revejo-me nela e repudio-me... a mim... a ela.
Mas adivinho (sei!) que lhe vou seguir os passos.

Esbracejo em areia movediça, afundo-me.
Contra o meu querer, aquieto-me.

Somos os nossos piores inimigos, eu sei.
Principalmente se continuamos a culpar os outros.

9 de abril de 2008

Quando...

... te terei à minha frente?
Sorriso trocista, olhos a transbordar de riso.

Quando saberei que és real?
Corpo maciço, homem banal.

Quando me encontrarás?
Surpresa imprevista, acaso de sorte.

Quando me tomarás?
Bola de fogo, carinho brando.

Quando te perderás em mim?
Fim do caminho, vida completa.

Quando? Quando? Quando?
Quando deixarei de te esperar?

8 de abril de 2008

Clicks

"Click, abri o mail
Click, abri o blog
Click, click, clik, estamos na época dos click instantâneos.
Mas às vezes, nem todos os link abrem logo, nem todos os clicks são rápidos, nós os informáticos, pelo menos, sabemos que nem sempre os click são como deviam ser, e já esperamos que assim sejam... e nem por isso deixamos de clicar."


E, com esta, o J. deixou-me a pensar...

7 de abril de 2008

A Maria...

... faz-me lembrar algumas pessoas que conheço.

Se tem possibilidade de estar comigo, vai dar umas voltas.

Mas se lhe fecho a porta na cara, não descansa enquanto não volto a abri-la...

3 de abril de 2008

Uma parte de mim...

... gosta de ser a outra.
Aquela a quem nada se deve.
Aquela que nada exige.

Algo em mim aprecia ser amante e não mulher.
Confidente mas não vigilante.
Amiga mas não companheira.

A que é procurada por gosto.
A que se encontra só por prazer.
A que ouve o que mais ninguém sabe.
A que conhece o que mais ninguém vê.

A outra dentro de mim dispensa os deveres, as chatices, o desgaste e os ciúmes.
A outra que me possui agradece a ausência, o sossego, a liberdade e a surpresa.

A outra (que respeito) prova-me que um homem nunca será só meu...
... porque a outra (em que acredito) continua a mostrar-me que um homem nunca é só teu.

2 de abril de 2008

Conheci-o...

... há dias.
Não senti nada.

Descontraído, bon vivant.
Boa conversa, melhor companhia.
Porque não sinto nada?

Sugere segundo encontro.

Convite simpático, alegre.
Inesperado, descomplicado.
Não sinto nada.

Pergunto-me se devo ir.
Interrogo-me se será justo.
Saberá que não sinto nada?

1 de abril de 2008

Lembro-me...


... do que me dizias.
Da dor oca que me provocavas.

E guardo (para sempre) o vazio que ela deixou.

Lembro-me de me sentir farrapo.
Menos que nada nessas alturas.

E (para sempre) mantenho a vergonha do nada ser.


Lembro-me de reconhecer o silêncio que antecedia a explosão.
De incitar a tua ira por não te temer.
Das discussões acesas e dos amuos prolongados.

Impossível esquecer que somos estranhos, iguais.
Inadaptados (demais), sensíveis (demais), selvagens (demais).

Sei que sou produto de ti, de nós.
Vinho da mesma cepa, farinha do mesmo saco.

E não deixo de me lamentar por isso.