31 de janeiro de 2008

Ele caminhava...

... atrás de mim, à saída do metro.
E eu ouvia-o, a falar no telemóvel.

"Só agora? Mas já estás em casa? Já reparaste que só me ligas quando estás em casa? Não estou nada a começar! Não, não estou a desconfiar de nada..."

Recuei alguns anos.
Lembrei-me daquelas férias que não gozámos juntos.
E, nessa altura, me dizeres:
"Tu é que estás de férias, tu é que tens tempo para me ligar"
E depois, quando foi a tua vez de ires de férias, alterares o teu argumento para:
"Tu é que estás a trabalhar, por isso, tu é que sabes quando podes ligar"

Tive vontade de dizer a este estranho que me seguia que, quando se gosta, não há desculpas.
Se queremos falar, ligamos.
Não precisamos de esperar.
Não contabilizamos quem foi o último que falou.
E não esperamos por chegar a casa.
Nem conseguimos não dar (nem ter) nenhum sinal de vida um dia inteiro.

Engraçado... tenho uma memória fraca mas há coisas que não consigo esquecer.

30 de janeiro de 2008

"Tu...

... não dás hipótese... não deixas acontecer!", disse-me ela, em tom de ralhete.
O mesmo ralhete repetido vezes sem conta, até à exaustão... por várias pessoas.

Mais uma vez, falei-lhe no click, no interesse pelo outro que surge quase de imediato.
Pode ser a vontade de perceber o que uns olhos dizem.
Ou o arrepio provocado por uma mão.
Pode ser a beleza de um pescoço ou de um queixo.
Ou um conjunto que atrai sem nenhuma explicação.

Mas tem de existir a luz que tenta e consegue ofuscar defeitos.
E o desejo de ir conhecendo (sempre) mais, mergulhar mais fundo.

Tem de existir a mão estendida que quero agarrar.
E a intenção caprichosa de nunca mais a largar.

Tem de existir o espicaçar de um anseio.
E a adrenalina de um "Será?", de um "Talvez...".

Tem de surgir o sorriso fácil quando penso nele.
E a lágrima presa se julgo não tê-lo.

E tudo isto acontecer num instante, num momento.
E tudo isto querer (sempre) mais espaço para crescer no tempo.

E eu sei porque quando gosto é de repente.
E, assim mesmo, quando amo é para sempre.

29 de janeiro de 2008

Fraqueza é...

... precisar dos outros para ser feliz.

Baaahhh!!!

28 de janeiro de 2008

Será loucura...



... ainda esperar um sinal?
Será normal recear ver-te?

Será loucura querer-te sem que me queiras?
Insensato ainda acreditar que me lembras?


Será insanidade nada sentir se me tocam...
... mas continuar a estremecer só de lembrar o teu toque?

25 de janeiro de 2008

O que será...

... mais provável?

Uma traição acontecer numa relação que começou a partir de uma forte atracção física?

Ou surgir numa outra onde a componente física sempre foi tida como secundária, abafada pela força de um companheirismo profundo?

24 de janeiro de 2008

Tens de...

... me fazer sentir mulher.
Acelerar o meu coração.
Fazer-me sonhar, dar-me pesadelos.

Tens de me tornar clandestina.
Provocar-me ao ouvido, viver fantasias.
Manter-me secreta, esconderes-te comigo.

Tens de me saber especial.
Acreditar-me bastante, imaginar-me única.
Querer-me somente, exigir-me só tua.

Tens de me partir e conseguir colar cada bocadinho.
Tens de me deixar e voltar sempre para mim.
Tens de me matar e reanimar eternamente.

E tens de amar-me como eu nunca soube,
Querer-me como eu nunca quis,
Viver-me como eu nunca fiz.

Fácil...
... não achas?

23 de janeiro de 2008

Truques



Lembram-se do método da Bridget Jones de, antes de alguns encontros, vestir a lingerie mais feia para não cair em tentação?


Eu uso-o...

22 de janeiro de 2008

Não sei...

... quando, como ou porquê ocorreu esta mudança.

Talvez a idade me tenha trazido maturidade e sensatez.
Ou talvez os sucessivos baldes de água fria me tivessem finalmente engelhado a alma.

Talvez as palavras me pareçam agora ocas.
Ou simplesmente não consiga entender quem se permite dizê-las (sentindo-as?).

Talvez me falte a esperança e a ingenuidade.
Ou tenha aceitado finalmente a realidade.

Mas deixei de investir em vozes sem corpo.
Já não prometo sons, cores e dias felizes.
E já não me apaixono por um punhado de letras.

Algures no tempo, cortei as minhas asas e agora...
... não sei voar.

21 de janeiro de 2008

Primeiro...

... disse-me:
"É a pessoa com que sempre sonhei.
Nunca me senti tão feliz, tão apaixonada!"

Ele oferecia-lhe presentes, regularmente.
Pequenas lembranças, objectos simbólicos com significado especial para ambos.
No início, festejavam os meses de relação com um jantar e uma aliança que ele lhe dava em cada aniversário mensal.
Ela, enlevada, desapareceu de circulação e afastou-se dos amigos e da família.

Depois, ouvi uns rumores.
Que ele lhe tinha batido.
Que a culpa era dela, que continuava em 'comunicação' com anteriores pretendentes.
Que tinham voltado, pazes feitas.

Mais tarde, novo percalço.
Ele bebe e quando bebe...
Mas é uma excelente pessoa.
Ajuda-a, acompanha-a, apoia-a.
E ela nunca soube estar sozinha.

Fica-me mal dizer que nunca gostei dele... desde o início.
Na altura, pareceria ciúme ou inveja.
Agora soaria apenas a vanglória... a "Eu bem sabia".

Estão juntos e eu permaneço distante... e calada.

18 de janeiro de 2008

Consta que...

... se eu me achar o máximo, se disser que sou o máximo, se me comportar como se fosse o máximo, acabarei por ser o máximo... ou, pelo menos, o Mundo acabará por acreditar nisso.
Parece que muito do que somos (ou do que parecemos) se deve ao que acreditamos ser.

Eu conheço algumas dessas pessoas... as 'maximizadas' por si próprias.
E confesso que não as tolero.
Não tenho paciência para tanto auto-elogio.
"Moro no melhor sítio", "Tenho o melhor marido", "Sou a melhor na escola, no emprego, no ginásio", "Sou a mais bonita, a mais desejada, a mais amada", "Os meus filhos são os mais bem sucedidos"...

Pelo contrário, conheço outras a quem nunca ouvi um elogio a si próprias... mas que são realmente o máximo!
São das pessoas mais inteligentes que conheço.
São bonitas, seguras, independentes, empreendedoras, atrevidas, excelentes pais (e mães), profissionais exímias.
São amigos fantásticos e pessoas exemplares.

O que me leva a continuar na minha, teimosamente.

Se formos o máximo, não precisamos de o afirmar.
E de que adianta apregoar que o somos... se não o formos?

17 de janeiro de 2008

O som...


... arrastado e pungente acordou-me, a meio da noite.

Demorei um pouco a lembrar-me que, agora, já não tenho vizinhos paredes meias.

Porque, se não soubesse que era um gato no cio, diria que era o som do prazer de uma mulher.

Pensando bem, não são coisas assim tão diferentes... pois não?

16 de janeiro de 2008

Escrevo...

... de raiva e lamento.
Grito ciúme e paixão.

Choro de dor e inveja.
Morro de auto-comiseração.

Não me penses bela e quieta.
Não me queiras beata e feliz.

Não sou perfeita e cuidada.
Antes farrapo sujo e enredado.

Não penses que podes salvar-me.
Não queiras saber de mim.

Porque sou só sombra sem corpo.
E só sei ser corpo... sem luz.

15 de janeiro de 2008

Cheguei mesmo...

... a dizer-to.
Depois de ti, nada me serve... parece praga que me rogaste.

Encolho o rabo e a barriga num 34... porque ficam a nadar num 36.
Estendo-me, pequena, numa casa grande demais, onde o som dos meus passos recorda a tua voz: "Tu ainda não moras aqui".
Oprimo conversas desmesuradas em gavetas minúsculas e organizadas, mini compartimentos secretos na minha alma.
Minimizo fantasias, redimensiono emoções, pondero riscos.

Tudo agora são números... grandes ou pequenos demais.
Mas sempre incorrectos, inexactos... incompletos.

Depois de ti, sou Hulk em roupa rasgada, Alice no País das Maravilhas...
... disforme, desajeitada, enorme.

Depois de ti, nada me serve.
E eu... não sirvo em nada.

14 de janeiro de 2008

Não sei

A música toca, suave.
Tudo o resto é silêncio, auto-imposto.

É verdade, não sei.

Quero perder esta paz, valiosa?
Não sei.

Quero (des)iludir-me uma vez mais?
Não sei.

Quero cuidar-me e cuidar-te?
Não sei.

E dependerá da minha vontade?
Não sei...

11 de janeiro de 2008

Faltam-me...

... resoluções de novo ano.

Esqueci-me de comer as passas, formular os desejos.
Não estreei nada azul, não pisei a nota de 50 euros.

Agora navego ao sabor do vento.
Sem terra no horizonte.
Sem rota traçada.
Sem destino pensado e desejado.

Posso parar já.
Ficar aqui.

Não há nada que queira, nada que me desperte.
Não há vento que me ufane.
Nem brisa que me cerre os olhos.

Estou à deriva.
Sou à deriva.

Avisem-me quando chegar...

10 de janeiro de 2008

Chateia-me...

... acreditar nesta filosofia da Vida ser um eco, pelo que só recebemos o que emitimos.

Mas acredito.
É a velha história de semear ventos para colher tempestades.
E chateia-me!

Impede-me de culpar os outros.
E aumenta a minha própria culpa.

Porque o meu respeito não gera som.
Mas o meu comodismo (egoísmo?) grita.

Porque o meu sonho é contido.
Mas o meu anseio alarido.

Porque o meu afecto é cuidado.
Mas o meu desejo estouvado.

Sou sempre derrubada pela força do eco que gero.
Mas suporto a culpa e engulo os queixumes.

Porque o meu reflexo, projectei-o.
A ausência de carinho, granjeei-a.
A conversa que ouço, procurei-a.
E as lambadas que recebo, mereço-as.

E isso chateia-me!

9 de janeiro de 2008

"Enquanto...

... vergo, não parto"
Há muito que não me sinto flexível, maleável.
Parti-me?

"Enquanto choro, não seco"
Há tanto que ninguém me faz chorar.
Sequei?

"Enquanto vivo, não corro
À procura do que é certo"

Falta-me o fôlego em maratonas e sprints.
Morri?

8 de janeiro de 2008

"Peer pressure"

Concordo que agimos, em muitos aspectos, por pressões externas.
E acredito que o mesmo acontece com muito do que sentimos.

Queremos o que nos é incutido como desejável.
E negamos o que nos é vendido como errado ou vergonhoso.

Por algum motivo (provavelmente por ser tão cabeça dura) o caminho mais trilhado sempre me causou alguma aversão.

Quando as meninas da minha idade sonhavam com vestidos brancos e igrejas românticas, eu dizia que queria ir viver sozinha aos 18.
Quando fumar era sinal de ser 'in', de estar na moda, lembro-me da Mafalda, de cigarro em punho, tentando enfiá-lo na minha boca... e de nunca o ter conseguido.

Quando a moda não me favorece, não a sigo.
E quando algo que eu gosto sai de moda, mantenho-lhe a minha fidelidade e dedicação... seja roupa, calçado, móveis, carros, pessoas e/ou atitudes.

Talvez, por tudo isto, me tenha perdido algures.

Com os amigos bem lançados na auto-estrada da vida... casamento, filhos, carreira, dinheiro... algo me diz que eu devia ter conseguido o mesmo.
Em vez de me ter metido em estradas secundárias que chegarão (ou não) ao mesmo destino, talvez tivesse feito bem em pagar algumas portagens.

E, mesmo sabendo que é a antipática da peer pressure que mo segreda e atazana, a influência que não lhe permito nas minhas acções, continua a fazer-se presente em relação ao que sinto...

7 de janeiro de 2008

Não tenho...

... nada para te dizer.
Nada nos liga, nada ficou.

"Então? Estás bom? Por aqui?"

A surpresa do encontro inesperado não serve de desculpa para o incómodo da situação.
E o atraso que me apressava não justifica a falta de assunto, de intimidade... de prazer em te rever.

Deixas-me sempre triste... tens esse condão.
Mesmo sem termos nada em comum.
(precisamente por não termos nada em comum!)

Mas porque achas que não temos nada em comum?
E porque fico triste, se concordo?

3 de janeiro de 2008

Chamam-lhe...

... maluca.

Porque troca números de telemóvel com o empregado do restaurante onde se sentou para almoçar.
Porque já fez o mesmo com o agente da Brigada de Trânsito que a multou numa operação Stop.

Porque é incapaz de prestar verdadeira atenção a quem a acompanha, uma vez que mantém em constante actividade o 'radar de efeito gerado à sua volta' que nunca desliga.
Porque troca família e amigos por outros 'focos de atenção' que lhe interessa aprofundar.

Porque só a bajulação a sacia e sossega.
Porque é carente e ansiosa e nada a satisfaz.

Porque é infeliz e mal amada mas ainda não desistiu de tentar...

2 de janeiro de 2008

Coisa linda! (obrigada, OT)

"Se eu voar sem saber onde vou
Se eu andar sem conhecer quem sou
Se eu falar e a voz soar com a manhã
Eu Sei...

Se eu beber dessa luz que apaga
A noite em mim
E se um dia eu disser
Que já não quero estar aqui
Só Deus sabe o que virá
Só Deus sabe o que será
Não há outro que conhece
Tudo o que acontece em mim

Se a tristeza é mais profunda que a dor
Se este dia já não tem sabor
E no pensar que tudo isto já pensei
Eu sei...

Se eu beber dessa luz que apaga
A noite em mim
E se um dia eu disser
Que já não quero estar aqui
Só Deus sabe o que virá
Só Deus sabe o que será
Não há outro que conhece
Tudo o que acontece em mim

Se eu beber dessa luz que apaga
A noite em mim
E se um dia eu disser
Que já não quero estar aqui
Na incerteza de saber
O que fazer, o que querer
Mesmo sem nunca pensar
Que um dia o vá expressar
Não há outro que conhece
Tudo o que acontece em mim!"