5 de maio de 2005

Surda-muda

Ontem, enquanto caminhava para casa, cruzei-me com um grupo de jovens (praí uns 10 ou 12) alegres, activos mas, curiosamente e perfeitamente fora do habitual, absolutamente não ruidosos!

Quadro primoroso e adorável.
Os gestos eram efusivos, as expressões intensas, mas os sons... nulos.

Em tempos frequentei, durante um ano, um curso de linguagem gestual.
Não mostrei grande talento porque acho que sou tremendamente auto-consciente e isso impede-me de me abstrair, por forma a conseguir exteriorizar em gestos e expressões faciais, aquilo que quero dizer.
E isso é essencial para um surdo. Que o rosto e o corpo demonstrem a emoção da palavra.

E se já naquela altura me era difícil transmitir sensações, ultimamente, então, sinto-me completamente incapaz de comunicar qualquer emoção positiva e o único sentimento intenso que a minha expressão tem conseguido revelar é, invariavelmente, a angústia.

A apatia e o entorpecimento dominam-me e atingem todas as vertentes da minha vida.
Nada me entusiasma, nada tem o mesmo brilho, nada me atrai, nada me seduz.
Permaneço em silêncio, mesmo falando ao desbarato.
E mantenho-me impassível a tudo o que me dizem ou tentam fazer ouvir.

Ao olhar aqueles jovens tive a estranha sensação de ser eu a surda-muda, afinal...