30 de março de 2005

Terra de Índios!

Vivo no faroeste... terra de índios e cowboys... cidade sem Lei, nem Ordem.
Em cada esquina posso deparar-me com um ‘duelo’, com um ‘xerife’ baleado, com um ‘vilão’ armado.
Já devem ter adivinhado: vivo na Amadora!

Nunca tive vergonha da minha cidade.
Moro lá desde que nasci.
Frequentei as suas escolas, brinquei nas suas ruas, convivi com os seus habitantes, cresci no seu ambiente.

Há muitos anos, lembro-me de estar numa discoteca e, ao esclarecer de onde vinha, receber a resposta horrorizada: “Xiii!! Terra de blacks...”
Na altura, ri-me da ignorância do meu interlocutor.
A Amadora era, já na altura, uma das maiores cidades do país e a panóplia de origens das suas gentes tornava-a idiossincrática e dava-lhe matizes de mil cores e variedade cultural.
Nessa altura, podia chegar a casa de madrugada e andar na rua à noite sem sentir o medo de ser assaltada, violada ou me ver inesperadamente envolvida nalgum tiroteio para o qual não contribuíra minimamente.

Não sou racista, nem xenófoba.
O estado actual da minha cidade (e do país) não é, na minha humilde opinião, resultado exclusivo da imigração desenfreada, seja africana, brasileira, de leste ou de qualquer outra região do mundo.
O mal do mundo, a meu ver, é a ignorância, a pobreza e a falta de educação e respeito pelo próximo.
Basta ver os exemplos diários no trânsito ou o comportamento prepotente dos administradores da madeireira contestada pela Quercus e pela GreenPeace.

Apesar de tudo, não pude deixar de rir com o lado cómico que, por vezes e felizmente, ainda consigo descortinar.
Ontem, à saída do metro, deparei-me com a seguinte cena:
Dois miúdos negros, não tendo mais que uma dezena de anos cada um, banhavam-se na fonte luminosa que embeleza a rotunda do dito local.
Indiferentes ao frio e ao trânsito que os rodeava, lavavam ainda a sua roupa, expondo os corpos nus à água e aos olhares dos transeuntes.
A candura...
A inocência...

A miséria...