Como consumidora, agrada-me tudo o que provoque uma descida dos preços daquilo que consumo.
Mas acredito que, como consumidora, sou apenas uma bandeira usada a bel prazer pelos políticos, um joguete nas mãos de demagogos.
Não me considero ingénua a ponto de acreditar que o que está em causa não seja, apenas e só, o dinheiro, os lucros e o poder associado aos mesmos.
Mas nisso, as farmácias não são diferentes de qualquer outra empresa.
No fundo, o que todos queremos é dinheiro... sejamos hipermercados, gasolineiras, farmácias ou o Sr. Zé da mercearia da esquina.
Não sou farmacêutica, mas tenho consciência que TODOS os medicamentos são nocivos em situações específicas (que podem até nem estar relacionadas com a sobredosagem).
Nem todos podemos tomar Aspirina, nem todos suportamos da mesma forma o Paracetamol.
Por outro lado, nem todos podemos comer amendoins, nem todos podemos beber leite... e isso não impede que os mesmos sejam vendidos sem qualquer tipo de supervisão.
É facto que não gosto de ir a um estabelecimento comercial e ninguém saber explicar-me seja o que for sobre o que quer que seja.
Desde que tenho peixes, por exemplo, vejo-me obrigada a deslocar-me a lojas da especialidade (e pagar mais caro pelos produtos que acabo por lá comprar) porque são os únicos locais onde ainda consigo alguma informação e o esclarecimento pretendido.
O que me vejo a pagar neste tipo de lojas (e nas farmácias) é, portanto, não apenas um produto, mas o conhecimento de quem o vende (que me pode ser transmitido se eu assim o solicitar).
Com um optimismo exagerado, parece-me que a Vieira do Mar deposita esperanças demasiado elevadas nas capacidades do português típico (que acredito piamente não ser ela) em ser capaz de ler (até aí ainda vou) e perceber o que está escrito na bula de um medicamento.
Se fizessem um Relatório Kinsey em Portugal, sobre este assunto específico, aposto que ficaríamos assombrados com o nosso grau de ignorância.
E não limito esta afirmação aos mais velhos.
Infelizmente, muitos dos nossos jovens não sabem falar, escrever e, muitas vezes, nem entender o português corrente (quanto mais o português elaborado e 'científico' das referidas bulas).
Por outro lado, ainda há pouco tempo surgiram notícias preocupantes (alarmantes?) sobre o consumo de anti-depressivos e da pílula do dia seguinte. Esta última evidencia uma situação séria de ignorância e falta de informação (já para não falar de alguma leviandade evidentemente patente nas adolescentes nacionais).
A meu ver, o que esta situação exige é um violento puxão de orelhas aos médicos e farmacêuticos deste país e uma maior educação dos consumidores e não a ainda maior disponibilidade de medicamentos.
No fundo, a minha pergunta é só uma:
"Qual a grande vantagem, afinal, em retirar a dispensa de medicamentos a quem, feitas as contas, melhor os conhece?"
17 de março de 2005
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