17 de agosto de 2004

Forever Young

Não vos assusta a ideia de envelhecer?
Confesso que, quando penso nisso, não me agrada nada a perspectiva.

A força da gravidade a fazer descair as peles menos firmes, as rugas que já não se podem apelidar 'de expressão', o peso que é mais difícil de manter e que teima sempre em aumentar, tarefas que nos custam cada vez mais a desempenhar, a memória e a rapidez de raciocínio a diminuir, as insónias a aumentar, a vista a piorar, a agilidade a desaparecer, a resistência física a escassear, as contas com médicos e medicamentos a abundar...

Hoje tudo tem a ver com a Qualidade (tinha mesmo que dizer isto... ou não estivesse eu no ramo).
As empresas querem trabalhar com qualidade.
O tempo que os pais passam com os filhos, como não é muito, tem que ser de qualidade!
No dia a dia, procuramos ter "Qualidade de Vida" (com os variadíssimos significados que isso implica para cada um de nós).
Envelhecer com qualidade é apenas mais um destes 'temas da actualidade'.

Mas o que é isso exactamente?
Será que basta chegar aos 70 anos, sãos como pêros?

O que assusta realmente não é apenas a debilidade física, mas sim a solidão em que alguns idosos vivem e, principalmente, a vulnerabilidade que apresentam.

Há alguns dias atrás, assisti à cena de uma velhinha que demorou alguns (muitos) segundos a chegar ao balcão dos correios, chegando mesmo a perder a sua vez para o número seguinte que, entretanto, foi chamado.
Outra senhora (que devia sofrer de Parkinson) também revelou alguma dificuldade para executar a tarefa a que se propunha.
No jardim, não faltam reformados sozinhos a ler "A Bola" e o "Record"... ou simplesmente à espera que o tempo passe.
Nas ruas, caminham lentamente e, por vezes, algo desamparados, estando não raramente sujeitos a atropelamentos e assaltos.
Assustador... :(

Adoro pessoas de idade!
Tirando algumas que têm a mania que 'idade é posto', admiro a sua experiência e não perco uma possibilidade de ouvir histórias do passado, directamente da boca de quem as testemunhou.
São, na sua grande maioria, crianças grandes, com birras e gracinhas e aprecio este tipo de convívio quando é saudável.

Mas a incapacidade que acompanha quase sempre a velhice... essa não gosto nem de pensar.
A dependência de outros (muitas vezes estranhos) para o dia a dia mais básico.
O abandono a que são votados, por vezes, pelos próprios familiares.

Envelhecer com classe e dignidade ainda não é para qualquer um, pelo menos, em Portugal.
Resta-nos esperar que o nosso futuro seja diferente... para melhor, claro!