31 de agosto de 2006

Nós, os Pobres

"Os colaboradores do Metropolitano de Lisboa interromperam hoje, temporaria e voluntariamente, o seu serviço... coisa pouca, só entre as 6h30m e as 10h30m (avisando, no entanto, que a circulação só regressaria à normalidade por volta das 11h).
Disponibilizaram, entretanto, transportes alternativos gratuitos.

Já vos disse, eu sei... eu nasci para ser rica!

Esperar na rua com uma ventania descomunal e desagradável por mais de 45 minutos pelo transporte alternativo que já chega semi-cheio, ter a sorte de ainda conseguir arranjar um lugarzito que entretanto fica completamente 'inundado' por braços, malas de senhora, barrigas e rabos que tentam equilibrar-se e chegar ao destino intactos e de saúde, suportar os cheiros, as conversas e as músicas dos outros, demorar mais de uma hora na viagem, presa no trânsito infernal da cidade, perfeitamente 'entalada' no ambiente descrito... definitivamente não é a minha cara!"

Escrevi isto no fim de Junho, por ocasião da greve do metro.
Mas a greve foi pontual... não acontecia há 10 anos e até hoje não voltou a acontecer.

Já as interrupções do serviço 'por motivos de ordem técnica' (pelo menos, na linha azul) são o pão nosso de cada dia.
Provocam atrasos para os empregos, forçam a procura de meios alternativos para conseguir chegar em tempo útil, arranham nervos e arriscam rebeliões.

Hoje foi mais um desses dias.
Depois de 15 minutos a aguardar a resolução do problema, o metro lá arranca.
Apenas para parar minutos depois na estação do Colégio Militar, com a informação de que a circulação só se processaria até à estação das Laranjeiras.
Foi ver-nos a sair, rebanhinho bem comportado, em suspiros e desalento.
Apanho um autocarro que me obriga a pagamento extra (claro!) e desaguo no Campo Grande onde a linha verde parece continuar a funcionar.

O português não reclama, desabafa... de preferência com o vizinho do lado.
Suporta serviços sem qualidade, resigna-se à impassibilidade dos responsáveis e engole o pagamento do prejuízo que daí lhe advém.

Mas 'Nós, os Pobres' não podemos queixar-nos, realmente.
Quando os nossos pedintes fumam Marlboro, usam gel no cabelo e se atrevem a mendigar enquanto os seus telemóveis tocam, quem acreditaria que quem trabalha tem alguma necessidade de reembolso ou compensação??