7 de janeiro de 2005

Perda de Tempo

O TEMPO QUE NOS RESTA
(Paulo Geraldo)
De súbito sabemos que é já tarde.
Quando a luz se faz outra, quando os ramos da árvore que somos soltam folhas e o sangue que tínhamos não arde como ardia, sabemos que viemos e que vamos. Que não será aqui a nossa festa.
De súbito chegamos a saber que andávamos sozinhos.
De súbito vemos sem sombra alguma que não existe aquilo em que nos apoiávamos. A solidão deixou de ser um nome apenas.
Tocamo-la, empurra-nos e agride-nos.
Dói. Dói tanto!
E parece-nos que há um mundo inteiro a gritar de dor, e que à nossa volta quase todos sofrem e são sós. Temos de ter, necessariamente, uma alma. Se não, onde se alojaria este frio que não está no corpo?
(...)
Doravante o tempo é de buscar deveres dos bons.
De complicar a vida.
De dar até que comece a doer-nos.
E, depois, continuar até que doa mais. Até que doa tudo.
Não queremos perder nem mais uma gota de alegria, nem mais um fio de sol na alma, nem mais um instante do tempo que nos resta.