21 de outubro de 2004

Vocação

Nunca senti verdadeiramente uma Vocação.
Não fui daquelas crianças iluminadas que sabiam perfeitamente o que queriam ser quando fossem grandes.

Quando cresci, logo depois da faculdade, tentei seguir aquilo que me pareceu um trabalho à minha medida: a escrita na forma de Jornalismo.
Tendo falhado essa primeira tentativa, e já mesmo depois de estar a trabalhar há alguns anos numa actividade completamente diferente, voltou a surgir a tentação de tirar o curso de Comunicação Social (lembras-te, Jorginho? ;)).
Mais uma vez, fiquei-me pela intenção.
Mas porque fui lembrar-me disto agora??

Talvez tenha sido pela raiva que me dá assistir ao circo armado pela Comunicação Social, por aqueles que seriam hoje os meus pares, se tivesse sucedido nas minhas tentativas de seguir esta que era considerada, há alguns anos atrás, uma nobre carreira.

Cada vez me revolta mais ver as suas atitudes de prepotência, de autoridade, de omnipotência.

Se alguém se nega a prestar declarações, surgem imediatamente afirmações sobre o dever de informar o público. No Domingo, antes do malfadado SLB-FCP, o radialista de serviço efectuava um grande elogio aos atletas do Porto porque haviam falado à Comunicação Social. Qual seria a admiração se não o tivessem feito?? Qualquer atleta se concentra antes de uma grande prova. Isso pode implicar, inclusivamente, que não deseje falar com NINGUÉM, nem prestar qualquer tipo de declaração (muito menos aos jornalistas!!). Daí até serem acusados de se negarem a informar o público vai uma grande distância, não concordam?

Se são impedidos de entrar em algum evento, cai o Carmo e a Trindade.
Quem tem o desplante, como se atrevem a deixar de fora a omnipresente Comunicação Social?!?!
Nos dias que correm, esta classe não quer admitir que possa haver 'segredos' ou vida pessoal (logo, privada).
Não respeitam segredos de estado, nem sequer os de justiça.
Se têm acesso à informação, divulgam-na sem olhar às consequências, quais alcoviteiras ou comadres, cujo único intuito é mostrar que sabem da vida alheia.
A informação ao público, que tanto alegam e defendem, é o que menos lhes interessa.
O que interessa é vender!!
Vender imagens, vender idéias, vender escândalos, vender polémicas e controvérsias, vender misérias, 'vender' o que hoje parece interessante ou útil que o público 'compre'.

Além disso, esta classe não possui, actualmente, o mínimo de Qualidade.
Erros gramaticais e ortográficos (que, aposto, muitos não sabem dizer a diferença).
Palavras inventadas e falta de investigação aturada sobre os factos.
Foco em pseudo-notícias, ênfase no sensacionalismo.
Falta de formação notória.

Comportam-se como pequenos deuses com todos os direitos e quase nenhum dever.
A sua histeria, a intrusão em assuntos que não lhes dizem respeito, a ânsia de aceder a algumas breves palavras por parte de alguém 'importante' ou saber algo em primeiríssima mão já teve, e continua a ter, repercussões graves.
Esquecem as regras da boa educação e partem ao ataque da 'notícia', sem respeito e com agravo.

Como já vos dei a entender, noutros posts, não acredito em coincidências.
Com o tempo, tenho vindo a perceber que, com certeza, não teria vingado nesta carreira.
Faltar-me-iam as 'qualidades' e a atitude que descrevi neste post.
E, como podem imaginar, isso definitivamente não me deixa triste!!