Ah, Portugal!!
País de vénias e deferências.
Terra de doutores e engenheiros.
Quem não o é, nada vale, nada importa.
Como sabemos, licenciados temos muitos (até mesmo no desemprego).
Mas doutores, nem por isso.
No entanto, qualquer 'cursozeco' (como o meu, por exemplo... ;)) de 4 ou 5 anos, dá-nos o 'direito' a usar o título honorífico "Dr.".
E como gosta o Português de o usar...
Quando terminei a minha licenciatura, ainda inebriada pela Benção das Fitas, pelo Baile e pela Viagem de Finalistas e, principalmente, pela sensação de liberdade que nos dá a conclusão e o atingir de um objectivo desejado, achei-me no direito de também abusar da mesma (o que era eu a menos que tantos outros?) tendo pedido para adicionarem as letrinhas 'Dra' ao meu nome no cartão MB acabadinho de emitir.
Quando o fui levantar, o funcionário do respectivo banco estava algo ocupado e tardava em atender esta gaiata de 23 anos, pequena e miúda. Quando finalmente o fez, pediu-me o nome e lançou-se à descoberta do meu cartão, mais um entre tantos que aguardavam os seus respectivos donos. Ah, mas quando o descobriu...
"Teresa? DRA. Teresa???"
O tratamento e a atitude modificaram-se instantaneamente.
O respeito, a deferência, para exactamente a mesma pessoa.
As pessoas que aguardavam a sua vez, olharam-me com admiração e curiosidade.
A seguir a isso, só me lembro o quanto corei e o quanto desejei nunca ter adicionado ao meu nome aquelas 3 malditas letrinhas.
Ficou-me de emenda e de lição!
Hoje sou naturalmente tratada por 'Dra. Teresa'.
Habituei-me à distinção que se faz na minha empresa a quem possui ou não formação superior.
Mas aprendi, naquele dia, naquela agência bancária, que o respeito, a atenção, o atendimento, a consideração, a reverência (o SALAMALEQUE, portanto) devido a uma pessoa, em Portugal, varia consoante o conjunto de letras que precede o seu nome.
30 de setembro de 2004
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