Lembram-se da medida?
Devido a ela, ando de metro, diariamente, há mais de um ano.
Viajo, geralmente, absorta numa leitura que me impede de ver quem se senta à minha frente, ao meu lado, de me aperceber de quem permanece em pé.
O 'mal' parece ser geral... ninguém se olha nos olhos.
Mas ontem...
Evitei a alienação do livro.
Olhei o rosto de várias pessoas, perscrutei a expressão de outras tantas, reparei nas suas roupas, nas suas mãos.
Vi-me a mim própria daqui a 20 anos... envelhecida pela rotina e pelo stress... cansada de suportar o cheiro de suor dos outros, os encontrões, os empurrões, a fossanguice e a falta de educação... indiferente aos alcoólicos e aos mendigos.
Ontem, triste e desiludida com a espécie humana, voltei a pensar nos riscos a que nos expomos diariamente.
Quando saio da estação de metro, no fim de cada dia de trabalho, invejo estupidamente a segurança de quem tem alguém à sua espera.
Entre os iminentes assaltos, violações e doenças (e a gripe das aves ali tão perto) o terrorismo parece 'apenas' uma ameaça vaga e longínqua.
O medo que me acomete não é o da morte num atentado.
Para esse nunca se estará preparado... irá sempre acontecer quando e onde menos se esperar... e qualquer um de nós lhe estará igualmente sujeito, ande de metro, de automóvel ou a pé.
O medo que experimento é o instintivo olhar por cima do ombro, o passo apressado até ao refúgio 'seguro' e tem origem na crescente falta de segurança, fruto da miséria, da ignorância, da perda de valores (ou do seu excesso) e da nossa própria humanidade.
O meu pesar fica com as vítimas de Londres... e com todas as vítimas de todas as violências desumanas que ocorrem diariamente no Mundo.
O medo, esse, fica comigo.
Na certeza, porém, de que o enfrento em cada dia e de que o tenho conseguido derrotar... até à data.
Bom fim de semana.
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