16 de junho de 2004

A medida

Estou imparável... deve ser por ser novidade, mas esta coisa do blog está a saber-me bem...
Cá vai mais um desabafo...

Eu devo ser comuna e nem sequer sabia.
Já alguém dizia que Jesus Cristo foi o primeiro comunista, por isso não deve ser assim tão mau sê-lo.

É que há injustiças a que não fico indiferente.
E algumas nem me afectam directamente.

Recentemente, na empresa onde trabalho foi tomada uma medida 'impopular' (também conheço outros termos para a medida, mas não vos vou maçar).
O que é certo é que essa medida me obriga agora a andar em transportes públicos.
Ora, para surpresa minha, isso não se revelou assim tão mau.
O meu percurso é entre estações terminais e, por isso, venho confortavelmente instalada desde o início ao fim da viagem, lendo ou simplesmente descansando, sem o stress associado à condução e ao trânsito típico português. E ainda por cima é mais barato!!
Se, neste momento, me dissessem que podia novamente levar carro para a empresa, eu pensaria duas vezes.
Mas então, perguntarão vocês, de que me queixo?

Queixo-me em nome dos meus colegas (camaradas, para quem é comunista ;)).
Queixo-me porque sou um caso quase único na empresa.
Queixo-me em nome de quem tem filhos e outras responsabilidades que ficam muito mais facilitadas com um carrito às ordens.
Queixo-me em nome de quem tinha a sua vida organizada em função de utilizarem viatura própria e que agora se viu privado desta 'regalia'.

E mais uma vez, perguntarão vocês, porque fomos nós privados desta 'regalia'??
Será que nos portámos mal?
Será que não merecíamos tal benefício?

A injustiça que vejo consiste na minha empresa possuir um parque de estacionamento coberto, no centro da cidade de Lisboa, quase vazio, e impedir os seus colaboradores de o utilizarem.
Não todos os colaboradores, apenas aqueles que não possuem carro da empresa ou de qualquer outra empresa do grupo.
Ou seja, além de já não possuirmos o benefício do carro de empresa (com todas as vantagens que lhe estão automaticamente associadas e que equivalem actualmente a uma média de 500 euros mensais) nem sequer nos deixam levar o nosso próprio veículo.
Eta povinho castigado...

Há dias estava eu a ouvir o desabafo de uma dra. que cá trabalha, possuidora de carro da empresa, queixando-se do trânsito provocado pelo Euro2004 e que a tinha atrasado na 'entrega' do seu rebento na escola e na chegada ao emprego.
Para ela, só me apeteceu, na altura, fazer o seguinte comentário:
"Experimente deslocar-se, por uns tempos, utilizando exclusivamente os transportes públicos, tal como fazem agora tantas e tantos colegas seus. Leve a sua criança. Já agora, leve também todas as tralhas que habitualmente carregamos, sem dar por isso, quando possuímos um carro e o podemos usar. Depois disso, terei todo o prazer em voltar a discutir as agruras do trânsito, principalmente quando nos deslocamos num veículo topo de gama, sustentado pela nossa própria empresa!"

Chamem-me comunista...