Terminei recentemente um curso de Engenharia da Qualidade e, graças a Deus, já estou a ver os resultados.
Não se trata apenas da "aplicação prática da matéria dada", mas algo mais profundo que me atrevo a chamar de "mudança de mentalidade"... a minha mentalidade.
Hoje tinha consulta no dentista.
Quem ler o meu Blog, já sabe que agora me desloco em transportes públicos.
Independentemente da razão, o que é certo é que me atrasei 20 minutos para a referida consulta.
Quando lá cheguei, o médico havia saído há 5 minutos, segundo fui amavelmente informada.
Meus amigos, mesmo quem me conhece (aliás, principalmente quem me conhece) não imagina a minha reacção.
Comecei por perguntar porque razão nos pedem o nosso contacto no momento de marcação da consulta, se depois não o utilizam numa situação destas.
Segui, 'informando' a minha interlocutora que, da última vez que tinha tido consulta com o doutor, havia esperado por ele uma hora e meia, sem que tivesse havido nenhuma explicação sobre o referido atraso. E ainda tinha entrado no consultório 'com boa cara', não tendo feito, na altura, nenhum reparo, nem reclamação sobre a incómoda espera, nem muito menos ter recebido um pedido de desculpas pela mesma.
Exigi falar com o doutor, uma vez que não achei justo ser outra pessoa a ouvir uma reclamação da qual não tinha directamente responsabilidade.
A 'conversa' foi subindo de tom e chegou ao seu clímax quando a assistente com quem falava teve a audácia de me dizer que a consulta era do meu interesse e que deveria ter sido eu a telefonar à clínica.
Ora aqui é que entrou a minha 'nova mentalidade'!!
Noutros tempos, nem sequer teria tido o discurso que vos descrevi acima.
Mas agora, sabem o que lhe respondi?
Que ela estava muito enganada e muito mal informada se pensava assim.
Que era o doutor que trabalhava para mim e não o contrário.
Que eu tenho um sem número de dentistas à minha disposição e que nada me obriga a consultar aquele em particular.
Que eu pago por um serviço (afinal, aquilo ainda é uma clínica particular onde nada é 'oferecido') e que, pelo facto, exijo um tratamento em conformidade.
Que se o doutor se atrasasse mais de 15 minutos e os seus pacientes fossem embora por isso, ele estaria no desemprego.
Que o que tinha acontecido era uma falta de respeito por mim, em particular, e por todos os utentes da clínica, de uma forma geral.
E agora é que chegámos ao busílis da questão...
RESPEITO (e a falta dele)
Com os médicos é gritante. Esperamos horas esquecidas por eles (seja qual for a sua especialidade) e ainda entramos com um arzinho humilde, dizendo "Boa tarde, sôtor".
Como a minha mãe diz, "Quanto mais nos baixamos, mais mostramos o rabiosque".
A falta de respeito encontra-se em todo o lado:
no trânsito é constante o chico-espertismo e a consequente falta de civismo;
na rua, ninguém dá passagem a ninguém, ninguém segura uma porta, ninguém agradece porque alguém o fez;
nos transportes, dar passagem a uma pessoa de idade ou o seu lugar a alguém mais necessitado é coisa rara de se ver;
etc, etc...
O desrespeito às regras é considerado, em Portugal, como uma qualidade e não um defeito, a esperteza saloia é algo que o Portuga gosta de se vangloriar.
O exemplo dos médicos é dos que mais me irrita por sermos tão dependentes deles e eles tão iguais entre si.
Onde é que está escrito que o tempo de um médico é mais precioso que o meu?!?!?
Mas este é só o meu exemplo... conhecem mais algum? ;)
1 de julho de 2004
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