9 de julho de 2004

Caridade (ou não...)

O Metropolitano de Lisboa é um Mundo!
A diversidade das pessoas que se encontra diariamente, das roupas, das cores, das raças, dos motivos que nos levam a apanhar o mesmo metro, das distracções que usamos na viagem...
O cansaço comum do fim do dia e o enfado ou a preguiça da manhã...

Para quem já não andava de metro há algum tempo (como eu) notei algumas melhorias significativas:
- Ar Condicionado
- Ecrãs gigantes de TV (ainda só em algumas estações) com notícias actualizadas
- Bancos confortáveis
- Carruagens sem apertos
- Área coberta pela rede do metropolitano cada vez maior

Mas há coisas que não mudam.
Todos os dias, quando entra mais um pedinte, na carruagem em que me encontro, penso para mim: 'Tenho que escrever sobre isto no meu Blog!'
Mas para dizer o quê?? :(

São habitualmente invisuais (espero que este termo seja politicamente correcto).
Têm cantilenas próprias que os distinguem dos outros, de tal forma, que já não precisamos de olhar para saber quem são.
Já identifiquei, pelo menos, cinco. Três homens e duas mulheres. Melhor dizendo, dois rapazes, uma rapariga, um senhor e uma senhora.
Percorrem diariamente, de lés a lés, os metros onde entram, com uma destreza que não observo nos restantes passageiros, que por vezes têm dificuldade só em manterem-se de pé, principalmente no arranque e na paragem numa estação.
Não recebem muito. Quem viaja, como eles, diariamente, nos mesmos metros, não pode dar todos os dias. E, quem sabe, não chega a dar nunca?
Há dias, aconteceu um episódio «engraçado». Um destes rapazes, depois de receber uma esmola, desatou a dizer "Porra!! Foi preciso atravessar o metro todo para alguém me dar uma esmola!". Nunca cheguei a ouvi-lo agradecer a quem lhe tinha amavelmente concedido o seu dinheiro.

Eu não dou esmolas.
Mas não digo isto com orgulho.
Aliás, digo-o até com uma certa tristeza.
Actualmente, não acredito nas incapacidades, deficiências e necessidades dos pedintes que polulam a Grande Lisboa.
Estou cínica, céptica e desconfiada de tudo o que não é provado e comprovado.
Até mesmo donativos a associações 'conhecidas' me deixam de pé atrás, uma vez que nunca sabemos se o nosso dinheiro chega a quem precisa ou vai direitinho para o bolso de alguém que tem demais.
Ainda hoje recebi um mail a informar que as crianças que vemos ao colo de quem pede, muitas vezes nem sequer são filhas de quem as segura e algumas estão sonolentas do álcool que usaram para as tornar mais 'dignas de pena'.

E 'prontos'...
Estes são os tempos em que vivemos...
E, deixem que vos diga, são tempos muito tristes. :(