... faço 70km de estrada. O mesmo caminho, duas perspectivas.
Vejo o nascer da cor e da luz. O morrer das sombras e dos medos.
Sinto a pressa dos outros. Que alimenta a minha.
E leio o fumo das chaminés. O movimento das ruas e cafés.
Ouço o burburinho, o silêncio da noite que se quebra. Os passos de quem caminha, os motores de quem acelera.
Mas, à noite, atravesso o frio e a escuridão.
E namoro as luzes das casas e o calor que lhes adivinho.
O cão que acompanha o dono, a criança que faz o TPC.
A mesa que reúne a família, a família que se revê.
Enxoto o arrepio das casas vazias.
Do abandono e da solidão.
E fujo daquela visão.
Afasto depressa o olhar.
E volto a correr.
Quero ultrapassar.
Ai esta eterna pressa de chegar.
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